Cefaleias responsivas à indometacina: quando um único remédio pode resolver anos de dor
- Alan Fröhlich
- há 2 dias
- 2 min de leitura
Você sofre com dor de cabeça frequente, intensa e unilateral que não melhora com os remédios usuais? Já tentou diversos tratamentos, mas nenhum resolveu de forma definitiva? Talvez você esteja lidando com um tipo raro de cefaleia que tem uma característica marcante: melhora completa com o uso de um único medicamento específico — a indometacina.
As chamadas cefaleias responsivas à indometacina ainda são pouco reconhecidas, mas, quando diagnosticadas corretamente, permitem uma melhora dramática na qualidade de vida do paciente.

Dois tipos principais: hemicrania paroxística e hemicrania contínua
As cefaleias responsivas à indometacina pertencem ao grupo das cefaleias trigeminoautonômicas, caracterizadas por dor de cabeça unilateral acompanhada de sinais como lacrimejamento, vermelhidão ocular, congestão nasal ou queda da pálpebra.
Os dois principais tipos são:
Hemicrania paroxística
Caracteriza-se por crises breves e intensas, que podem ocorrer várias vezes ao dia. A dor é sempre de um lado só da cabeça, geralmente ao redor do olho, e costuma vir acompanhada de sintomas autonômicos como lacrimejamento e nariz entupido.
Hemicrania contínua
É marcada por uma dor constante, unilateral, que oscila em intensidade ao longo do dia. Durante os picos de dor, o paciente também apresenta sintomas como lacrimejamento, vermelhidão ocular, sensibilidade à luz e ao som, e desconforto com movimentos. Essa condição pode facilmente ser confundida com enxaqueca crônica, mas não responde aos tratamentos convencionais.
Diagnóstico: a resposta ao medicamento é a chave
O diagnóstico dessas cefaleias é baseado principalmente na história clínica e na resposta ao tratamento. Se a dor desaparece completamente com o uso da indometacina, o diagnóstico é confirmado.
Além disso, por serem condições potencialmente relacionadas a alterações na hipófise, é comum que o neurologista solicite uma ressonância magnética do encéfalo com avaliação da região hipofisária.
E o tratamento?
A indometacina é um anti-inflamatório específico que apresenta eficácia única nesses tipos de cefaleia. Em geral, o neurologista prescreve esse medicamento por um período de teste, observando a resposta clínica. Se os sintomas desaparecem completamente, confirma-se o diagnóstico e se estabelece o plano terapêutico individualizado.
Por se tratar de uma medicação que pode causar efeitos adversos gástricos, é comum o uso associado de um protetor para o estômago.
Em alguns casos, pode-se considerar tratamentos complementares que ajudam a reduzir a necessidade de medicação contínua, como:
Estimulação do nervo vago com dispositivo externo
Melatonina
Outras medicações neuromoduladoras, sob orientação médica
Por que isso é importante?
Muitas pessoas convivem por anos com dores incapacitantes, passando por diferentes diagnósticos e tratamentos sem sucesso. Identificar essas cefaleias raras pode ser um divisor de águas na jornada do paciente.
O mais surpreendente é que a solução pode estar em um medicamento simples, já disponível há décadas, mas cujo uso específico para essas condições ainda é pouco difundido.
Quando procurar um neurologista?
Se você tem dor de cabeça sempre de um lado só, que é resistente aos tratamentos comuns e vem acompanhada de sintomas como lacrimejamento, nariz entupido ou queda da pálpebra, vale a pena consultar um neurologista. Uma avaliação adequada pode identificar se você tem uma cefaléia responsiva à indometacina — e, com o tratamento certo, sua dor pode ter fim.
Referência científica:
Goadsby PJ. Indomethacin-Responsive Headache Disorders. Continuum (Minneap Minn). 2024;30(2, Headache):488–497. doi:10.1212/CON.0000000000001300
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